
A remuneração média de um presidente ou executivo-chefe (CEO, na sigla em inglês) no Brasil em 2019 foi 75 vezes maior do que a remuneração média paga aos funcionários das próprias empresas em que trabalham. A remuneração anual média de um CEO foi de R$ 11,28 milhões no ano passado, considerando as empresas listadas no Ibovespa, com valores que variaram entre R$ 584 mil e R$ 52 milhões.
O levantamento foi feito pelo especialista em governança corporativa e ex-diretor da Previ, Renato Chaves, e compara os dados divulgados pelas companhias de capital aberto e disponibilizados no Formulário de Referência de 2019 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
A divulgação dos salários mínimo, máximo e médio dos executivos das companhias abertas está prevista desde 2009 – mas somente em 2018 a CVM conseguiu derrubar uma decisão judicial que impedia a autarquia de exigir que todas as empresas divulgassem esses números.
O levantamento mostra que um CEO tem remuneração equivalente a até 663 vezes maior que a média paga aos funcionários da sua respectiva empresas, conforme antecipado pelo jornal “Valor Econômico”. Em 32 das 71 companhias analisadas, o maior salário é ao menos 100 vezes maior.
As maiores diferenças na relação maior salário/remuneração média foram verificadas nas Lojas Americanas (663 vezes), Pão de Açúcar (649), Magazine Luiza (526), Intermédica (476) e Itaú (473).
“São informações públicas que estão na CVM, mas que dá um pouquinho de trabalho procurar. Não são fáceis. Trata-se da maior remuneração da diretoria. É o CEO que a gente está falando”, afirma Chaves.
Para chegar calcular as diferenças salariais, o especialista comparou os maiores salários de cada empresa com a remuneração direta dos empregados que é informada no documento chamado Demonstração do Valor Adicionado (DVA).
Ele explica, porém, que alguns fatores que podem influenciar a base de comparação dos números como por exemplo contratações concentradas no fim do ano, já que o Formulário de Referência da CVM refere-se à posição das empresas em 31 de dezembro e forma da composição do DVA, já que algumas empresas não incluem na remuneração direta dos funcionários itens como Participação nos Lucros e Resultado (PLR) e bônus por performance.
Das 71 empresas do levantamento, as menores diferenças foram observadas na Energisa e na Eletrobras, onde o principal executivo ganha 3 vezes mais que a renda média dos funcionários. Na Petrobras, a relação ficou em 8,2 vezes.
‘Desigualdade assustadora’
Na avaliação do responsável pelo levantamento, os números revelam uma desigualdade salarial “assustadora” e superior a encontrada em outros países. Ele cita estudo da PayScale que apontou uma diferença máxima de 434 vezes nos Estados Unidos e outro da agência Bloomberg que apontou diferenças de 146 vezes na Alemanha e de 60 vezes na Suécia.
“Vejo a remuneração de executivos no Brasil bem excessiva. O que pretendo mostrar com isso é que as empresas grandes fazem parte do problema da desigualdade da sociedade que nós temos”, afirma.
“Não existe super-homem. Ganha muito porque a empresa é grande, só por isso. Nenhuma estratégia vencedora pode ser creditado a uma única mente brilhante”, acrescenta.
Maiores remunerações anuais nas empresas do Ibovespa
- Itaú: R$ 52,06 milhões
- B3: R$ 51,25 milhões
- Santander: R$ 45,32 milhões
- CVC Brasil: R$ 37,9 milhões
- JBS: R$ 32,14 milhões
- Bradesco: R$ 30,66 milhões
- Cosan: R$ 27,25 milhões
- Cogna: R$ 22,82 milhões
- Magazine Luiza: R$ 21,25 milhões
- Braskem: R$ 21,12 milhões